segunda-feira, 24 de março de 2014

Envelope amarelo Gema



para Lucas Rehman



Já falei de mim mais do que queria, mais do que devia, mais. É de se perceber que nunca fui muito boa em matemática por questão obsessiva. Mas isso você também já sabe, já devo ter de contado.

Falta-me tu!

Isso não é um grito, isso é um peido.
Quem já me viu gritar sabe a escabrosa diferença.

Li muito, 
era meu jeito de me encontrar com o silêncio 
se ainda não o seja.

Papo-reto-terapia: 
Eu janto Pathos e musico super-ecos, 

Por isso os livros:
' Em estantes, em gaiolas, em fogueiras
ou lançá-los pra fora das janelas
talvez isso nos livre de lançarmo-nos'

E não me falta de contar mais nada, 
eu não gosto de fazer enredo de vida 
- por isso os livros- 
acho sempre de mal gosto

é isso que me acomete nas mesas de bar, 
fazendo enredo 
me embriagando tomando 
doses de coragem
gargalhando minhas vergonhas 
que tão caro me custam. 

Custam caro porque são mentiras. 
Tudo que choro, sinto, enrolo, suplico, grito, urro, narro, enrendo-me 
é mentira 
-por isso os livros-

E foi escutando por de trás das capas dos livros 
que descobri o fenômeno mágico do ouvir, 
e o que eu ouvi foi o silêncio. 


O que tento dizer é: 
aprender as sensações como gaiolas é uma questão de lógica 

-por isso os manicômios, aonde também pode-se ler livros, digo, se te comportar como carpas num tanque, então por isso os livros- 

Ouvir para mim é: 
o silêncio lúdico, a navilouca 
das instantes 
que me convidavam para escutar um bom proseado. 

Falar era o recheio da minha cabeça ou seja, mentiras travessas. 
Com personagens, cenário e enredo



Então 



Foi no bar que te encontrei: o bar é um cenário, o te é personagem, o eu oculto também o é e o verbo encontrar conjugado no passado é o enredo.

Na minha cabeça computadora foi sendo digitado esses textos egóticos de mal gosto que uma vez te falei. Bota reparo, eu escrevi o verbo falei, lógicamente menti.

menti em querer me meter em ti
já que tu é personagem
por mim muito criado e mal criado
por não me querer no fim da noite sem roupa sem alma sem nada na cama
a sua no caso,

-por isso os livros-

Então

depois do chicote de Ana Cê me lembrando que chorei sem vela comecei a fazer a aeróbica do ego, e veja aqui que falei ego e não eco

Sei um tico de ti, pois me disseste, e minto que não lembro como também mentiste para mim porque falavas, e falavas sorrindo

você não sabe mentir
mas mente
assim
somos


todos
um nó
.
.
.
.
-por isso os livros-
.
.
.


Sobre o título do e-mail 
é coisa interessante. 
Li há exatos cinco anos o livro o Lobo da Estepe de Herman Hesse,

[Livro que na época me entediou como só um bom burguês o faz.] 

e foi que há dois meses resolvi 
mudar de lugar todos os meus livros, 
tirei-os do quarto 
[que agora tem tintas e essas não mentem] 
e coloquei-os na sala 
[para esconder a televisão que mente]
, e foi nessa dança da cadeira que caiu 
the useless Dada e os Cut ups de Burroughs,
[não vou me alongar]. 

A questão é: Tem dias que pego o livro, rasgo uma página:
as vezes leio, as vezes não, 
meto a página rasgada 
dentro de um envelope cor gema 
que comprei na Kalunga. 

As vezes entrego a carta, 
as vezes implanto na bolsa de algum alguém.


[Hoje não quis te ver ,por isso os livros] 
mas rasguei a página do livro
e coloquei ele na gema
.
.
.
.


Como uma filósofa 
fico aqui inventando conceitos 
para essa questão literária dramática das cartas 
que querem ser entregues
mas o coração não deixa
já que nem toda carta é correspondida. 



-não é cinismo, é fantasia-




Você tem namorada

 

e eu

 

eu tenho os livros
[...]

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