domingo, 28 de outubro de 2012

O fim em dez cigarros de tempo

Deixou-me na cabeceira
caixa-box de cigarros filtrados
E eu ainda lhe falava de cura
e ele
que sempre foi
curado;

Desprendi de meus pulmões
um arroto transversal no quarto
Esfumacei seu rosto
caminhante e sem desejo
de meus pileques
monumentais

Ele me serviu a vodka,
apontou-me a porta
da geladeira,
minha única e fiel escudeira.
Traguei mais tragos
intragaveis de final.

Falavam-nos algumas sentimentalidades
televisivas,
amores crueis terminados
em casamento.
Alimentei-me do insucesso
de amar
Os pelos corbetos
de rostos
acendiam os olhos
a cada
meu
cigarro fumado.

Ele colocou no rádio
uma inocente melodia,
tentativa subestimada
de quebrar o obscuro
fumo da retirada.

Minha mente pregou
olhos de filhotes na porta,
imaginei-me saindo
por seus infinitos
buracos oráculares.
Ao inventar imagens
o olho,
por fim,
rendeu-se a ver a realidade:

Meu último cigarro não fumado


Foi no tempo de acender
e ver as cinzas queimarem
que lembrei-me de Swann
exclamando o fim
da feia Odette

-E dizer que estraguei anos inteiros de minha vida, que desejei a morte, que tive meu maior amor, por uma mulher que não me agrada!-

Nem terminei o cigarro e fui embora feliz








quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Ousar-me feliz


para Frederico Bertani e Mariana Varela

Colorindo papeis a grafite
rabiscando as linhas
covardes e trêmulas.
O papel escapa
(sempre de vez em quando)
o braço,
como alfinete
rasga digitais
formando bolhas vermelhas
no papel.

Colorido, o papel timbrado
com sangue.,
Me fiz
pequena na preguiça
de ser grande.

(Decreto-Geral:
Agora Escorrego
a minha última lágrima,
escorrego
o meu último lamento
em papel cinzento!)

Não fiz bola
com o sangue de papel
Fiz que os olhos marinados
se rendessem ao olhar do sol.

As lágrimas constroem na retina
um vitral, que me explode
nuances de cores concentradas
no horizonte multifacetado.

Foi assim, como uma música quente,
Que ousei olhar.

Foi assim, como um amor inocente
que fiz  de meus dedos
carinhosos instrumentos

Foi assim,
da noite pro dia
do escuro a cor

que meu papel
se fez de pele
e meu coração
de valente.

Foi assim,
que ousei
dizer

poderá eu,
por fim render-me
e ousar-me feliz?

sábado, 20 de outubro de 2012

Habito pedaços patéticos de armadilhas

Só apagarei o cigarro
quando a decadência
 virar o cinzeiro
no rodamoinho inefável
 de cinzentas cruzes
 abastecidas no meu
 inconsciente.
 Só apagarei o cigarro
 se o inefável virar forma, forma!
 Só discutirei as horas do relógio
 se derramarem os segundos no ar,
 regurgitado por todas as vacas
 sagradas da Índia.
 Só discutirei as horas do relógio
 que forem endereçadas para teorias
 populares de recém nascidos.

Olho perplexa como a palavra tem morfia exata na imensidão de sentidos quânticos. Entrego, então, figos e mentiras a forma que esta caneta responde graficamente a este meu lamento imprestável

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Sub-verso de xadrez

Subevertidos
os bispos
inventam
sinistros
tabuleiros
No sub(o)mundo
foram
guilhotinados
todos os peões
Invertida a torre
pela rainha casta
que não come
penetra
o castelo adentro
Obsceno
o rei se jogou
do cavalo
arisco
pela hora
da sonata
envenenada
trovejante e
subvertida
dos românticos

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Calhordas

Começarei na primeira pessoa
segunda e terceira
e todos os plurais
Calhas, encalha
Calou-me calhordas
Leviano sujo de terra
ou seria outro tom de marrom?
Ordinário sinônimo
Antônimo seriam os Marcianos
Planeta, deserto de calhamaços
científicos e despro-vindo
canavias
Planeta sem terra
Anti-ciência política
Caixote no mar
segue afogando
a carnificina
invadividindo endividados
campestres emcaixoatados
afundam no

mar

lar

ar