domingo, 28 de outubro de 2012

O fim em dez cigarros de tempo

Deixou-me na cabeceira
caixa-box de cigarros filtrados
E eu ainda lhe falava de cura
e ele
que sempre foi
curado;

Desprendi de meus pulmões
um arroto transversal no quarto
Esfumacei seu rosto
caminhante e sem desejo
de meus pileques
monumentais

Ele me serviu a vodka,
apontou-me a porta
da geladeira,
minha única e fiel escudeira.
Traguei mais tragos
intragaveis de final.

Falavam-nos algumas sentimentalidades
televisivas,
amores crueis terminados
em casamento.
Alimentei-me do insucesso
de amar
Os pelos corbetos
de rostos
acendiam os olhos
a cada
meu
cigarro fumado.

Ele colocou no rádio
uma inocente melodia,
tentativa subestimada
de quebrar o obscuro
fumo da retirada.

Minha mente pregou
olhos de filhotes na porta,
imaginei-me saindo
por seus infinitos
buracos oráculares.
Ao inventar imagens
o olho,
por fim,
rendeu-se a ver a realidade:

Meu último cigarro não fumado


Foi no tempo de acender
e ver as cinzas queimarem
que lembrei-me de Swann
exclamando o fim
da feia Odette

-E dizer que estraguei anos inteiros de minha vida, que desejei a morte, que tive meu maior amor, por uma mulher que não me agrada!-

Nem terminei o cigarro e fui embora feliz








Nenhum comentário:

Postar um comentário