quinta-feira, 17 de maio de 2012

Não servirei de adubo para as Margaridas


Ocorreu-me a idéia de me mijar de medo atravessando o viaduto.
A corrente de ar de São Paulo me veio amoniacal.
Sem escapismos nem metáforas, o cheiro da cidade me submete;
São as frases soltas que me captam de fora pra dentro,
obrigando-me a compreender
o solo fatigado deste asfalto,
A passarela elegante dos trabalhadores enternados
sacode as minhas pálpebras contemplativas. 
Observo para além do escritório espelhado, para além da alusão moderna
de céu. O meu rosto ultrapassa a salinha do café, vira a direita do corredor e abre a porta: Banheiro feminino.
Mijei na água e me limpei. Pensei em voz alta, talvez quem sabe a sociedade me escute que nem um Deus.
Vestida de século XXI tirei a minha bic do bolso e relatei na porta do banheiro que o cheiro do ralo era meu.
Fedida e vestida fui buscar buracos na fila do trêm, não meu Senhor, eu não tenho 50 centavos para te levar daqui para lá.
É assim que pago as minhas contas, freando o passo da multidão ao te negar ser grão neste balde de areia.
Sim meu Senhor,
O pão também é grão, o problema é que ele vira pastoso e hoje o viaduto quer me ver virar água descendo, pra baixo do subterrâneo.

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