quarta-feira, 3 de julho de 2013

As camas molhadas

Se me perguntam dos meus papéis burocráticos
respondo com muito ar de propriedade
que minhas gavetas de escritório
são pautadas
com as linhas tortas
abandonadas
por Deus
que me pague
a identidade
de não saber quem sou
deitada olhando pro teto
em uma cama de amônia
que me da caráter e cheiro
de uma verdade além de ternos e gravatas
O suicídio é sucinto
e breve como a voracidade
de se entender por gente
ajoelhado na igreja em chamas de pecado

Se me perguntam de mim nessa cidade
digo que sou um objeto na sua instante memória
de infância infame, no buraco recalcado
do seu vexame de bater uma punheta
enquanto na cozinha a sua mãe com as mãos molhadas
das batatas que serão servidas para o jantar






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